Conversando sobre educação científica

Aqui nós, do Núcleo de Educação Científica - NECBio, da UnB, criamos um espaço para a troca de idéias sobre educação científica, divulgação da ciência e debates sobre o papel da ciência em nossas vidas. Esperamos que sirva de mapa para a rica mina da divulgação científica e para recursos voltados para ensino de ciências e biologia. Aproveite!


quinta-feira, 15 de julho de 2010

Divulgação científica no ensino de ciências

O uso de revistas entre outros materiais da mídia impressa nos trabalhos escolares, como apoio além do livro didático, pode ser uma prática importante e útil, auxiliando na contextualização dos conteúdos, na apresentação dos conceitos e no desenvolvimento de práticas de leitura.

A popularização da ciência ou divulgação científica pode ser definida como ”o uso de processos e recursos técnicos para a comunicação da informação científica e tecnológica ao público em geral. Nesse sentido, a divulgação supõe a tradução de uma linguagem especializada para uma leiga, visando a atingir um público mais amplo” (ALBAGLI, 1996, p. 397).

Tanto os cadernos de ciência de jornais e de revistas de variedades como também mais especificamente as revistas Ciência Hoje, Ciência Hoje das Crianças, Scientific American Brasil, Revista Pesquisa Fapesp entre outras, são produções impressas com a finalidade de realizar a divulgação científica.

Essas produções trazem informações sobre ciência na forma de notícias, reportagens e entrevistas que são dirigidas ao público em geral. Seus textos não foram especificamente produzidos para serem utilizados na sala de aula. No entanto, devido à qualidade gráfica dessas produções, que geralmente trazem muitas fotos e infográficos, além de informações atualizadas e interessantes, são materiais utilizados tanto pelos professores como também por autores de livros didáticos, possibilitando leituras complementares.

De acordo com as ”Diretrizes Curriculares da Educação Básica”, a leitura científica deve ser utilizada pelos professores a fim de possibilitar que os alunos se aproximem do professor e aprofundem os conceitos trabalhados.

Dessa forma, a divulgação científica é considerada um aspecto essencial para o ensino de Ciências, “tanto para a formação do professor quanto para a atividade pedagógica”, juntamente com a história da ciência e a atividade experimental. A realização de leituras científicas possibilita o enriquecimento da cultura científica dos alunos, e, dessa forma, “o ensino de Ciências deixa de ser encarado como mera transmissão de conceitos científicos, para ser compreendido como processo de superação das concepções alternativas dos estudantes, possibilitando o enriquecimento de sua cultura científica”.

Alguns cuidados que os professores devem observar quanto à utilização desses materiais:

O professor deverá observar a qualidade desses materiais, selecionando tão somente os que tiverem linguagem adequada articulada a um rigor teórico conceitual que evita a banalização do conhecimento científico. O uso de material inadequado, bem como de anedotas, analogias, metáforas ou simplificações que desconsideram o rigor conceitual compromete o ensino e prejudica a aprendizagem. [...] Na utilização de um texto de divulgação científica, por exemplo, o professor precisa identificar os conceitos e/ou informações mais significativas, fazer recortes e inserções, além de estabelecer relações conceituais, interdisciplinares e contextuais.

E, dentre os diversos materiais de divulgação são sugeridos:



3. Revistas Scientific American e Scientific American Brasil – Publicação da Editora Duetto



Portanto, essas diretrizes apontam para o caminho que aqui se propõe refletir e aplicar, ou seja, que haja uma utilização de textos de divulgação científica com uma “rigorosidade metódica [...] prática necessária a um educador democrático, que [...] reforça a capacidade crítica do educando, sua curiosidade, sua insubmissão”.

Textos Interessantes

A Divulgação Científica Aplicada ao Ensino Médio

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Biodiversidade

Clique nos links coloridos para ser redirecionado ao texto
"Textos de Nurit Bensusan, bióloga que divide seu tempo trabalhando com conservação da biodiversidade e refletindo sobre meio ambiente, ciência e tecnologia no blog "Nosso Planeta".

O que é educação em saúde?

A educação em saúde pode ser entendida como processo que procura capacitar os indivíduos a agir conscientemente diante da realidade cotidiana, com aproveitamento de experiências anteriores formais e informais, tendo sempre em vista a integração, continuidade, democratização do conhecimento e o progresso no plano social. É um campo multifacetado, para o qual convergem diversas concepções, tanto das áreas da educação, quanto da saúde, as quais espelham diferentes compreensões do mundo. O conceito de educação em saúde é definido como um processo que abrange a participação de toda a população no contexto de sua vida cotidiana e não apenas das pessoas sob risco de adoecer.


Referências

GAVIDIA, V. Salud, educación y calidad de vida: De cómo las concepciones del profesorado inciden en la salud. Santa Fe de Bogotá: Magisterio; 1998.


Documentos Relacionados

MARCO LEGAL - Saúde, um Direito de Adolescentes


Links interessantes

Ministério da Saúde

Educação em saúde na escola

Na escola, onde crianças e jovens passam grande parte de seu dia, as ações de orientação de promoção da saúde constituem importante meio de informação. A escola, local onde vivem, aprendem e trabalham muitas pessoas, é um espaço no qual programas de educação e saúde podem ter grande repercussão, atingindo os estudantes nas etapas influenciáveis de sua vida, quais sejam, a infância e adolescência (BRASIL, 2002).

A concepção da sociedade a respeito de saúde sempre esteve presente, de algum modo e em algum grau na sala de aula e no ambiente escolar (BRASIL, 1998). Assim, as questões relacionadas à saúde vinham sendo tratadas por diferentes disciplinas escolares até que, em 1971, a lei 5692 introduziu formalmente a temática de saúde no currículo escolar, como “Programa de Saúde”. De acordo com essa legislação, Programas de Saúde não deveriam ser trabalhados como disciplina, mas por meio de atividades que contribuíssem para a formação de condutas e para a aquisição de conhecimentos e valores capazes de incentivar comportamentos que levassem os alunos a tomar atitudes corretas no campo da saúde. (BRASIL, 1998).

No final dos anos 90, época da elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): temas transversais (BRASIL, 1998), a avaliação da situação do ensino de saúde considerou este tema como ainda predominantemente centrado nos seus aspectos biológicos. Os conteúdos de saúde eram então prioritariamente trabalhados dentro da disciplina Ciências Naturais, com uma abordagem focada na transmissão de informações sobre doenças, seus ciclos, sintomas e profilaxias.

Nos dias atuais, passados mais de dez anos, da elaboração dos PCNs, estudos ainda comprovam que essa situação permanece inalterada. O ensino de saúde na escola ainda é centrado nos aspectos biológicos e também ainda é, principalmente, trabalhado nos conteúdos de Ciências Naturais e de Biologia

De acordo com os PCNs, os alunos vivenciam na escola situações que lhes possibilitam valorizar conhecimentos, práticas e comportamentos saudáveis ou não, o que indica que os espaços escolares e as atividades cotidianas praticadas dentro da escola tanto podem desenvolver atitudes voltadas para a saúde como podem ignorá-las.

Cabe destacar, ainda, que o papel da escola vem se tornando cada vez mais importante na formação de hábitos saudáveis. Nesse ambiente, deve haver espaço para educadores e alunos discutirem questões sobre saúde.

É interessante ressaltar que os projetos de educação em saúde na escola, em sua maior parte, são realizados nas aulas de Ciências ou Biologia, embora os assuntos estejam relacionados ao tema transversal Saúde, proposto como um tema a ser trabalhado em todas as disciplinas do currículo escolar, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais.


Referências

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais. Brasília, DF, 1998. 436p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Promoção da Saúde. Escolas promotoras. 2002. Disponível em: www.saude.gov.br/programas/promocao/escolas.htm


Documentos Relacionados

Diretrizes para implementação do projeto saúde e prevenção nas escolas


Links interessantes

Ministério da Educação

Os conteúdos de saúde nos livros didáticos de ciências

O livro didático é um dos recursos mais presentes no ambiente escolar e muitas vezes é o principal meio utilizado pelos professores para direcionar o processo de ensino-aprendizagem. A partir do livro adotado os professores das diferentes disciplinas costumam selecionar os conteúdos e as atividades que organizam o dia-a-dia de sala de aula.

De acordo com Martins (2006), o texto do livro didático não é criado simplesmente a partir de uma transposição dos conteúdos de material científico para o ensino escolar. Ele deve contemplar as relações entre ciência, cultura e sociedade no que se refere à formação de cidadãos e sua composição deve partir de interações situadas em práticas sociais típicas do ensino na escola. Nesse sentido é possível afirmar que o livro didático representa uma articulação entre diferentes posições sociais e conceituais, constituindo e materializando o discurso sobre ciência na escola.

Em relação à educação em saúde nos livros didáticos de Ciências alguns autores destacam a importância do assunto e os problemas que podem estar relacionados às abordagens desse tema. Mohr (1995), em trabalho que analisa conteúdos de saúde nos livros didáticos, critica os conteúdos apresentados nos livros do ensino fundamental. Segundo a autora, os livros enfatizam mais os fatos do que as causas do processo saúde/doença valorizam excessivamente a memorização de nomenclatura técnica, e algumas vezes apresentam informações equivocadas, além de não se aproximarem do cotidiano do aluno.

Em estudo a respeito da educação para a saúde em manuais escolares espanhóis, Gavidia (2003), aponta que esses manuais não são uma referência suficiente para que os professores desenvolvam temas de educação em saúde na escola. E que, além disso, esse material não visa mobilizar mudanças de atitudes e de condutas na vida dos jovens.


Referências

FREITAS, E.O.; MARTINS, I. Concepções de saúde no livro didático de ciências. In: VII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, Florianópolis, 2009. Anais do VII ENPEC, Belo Horizonte: ABRAPEC, 2009.

GAVIDIA, V. La Educación para la salud en los manuales escolares españoles. Rev. Esp. Salud Publica, n.2, v.77, p.275-285, 2003.

MARTINS, I. Analisando livros didáticos na perspectiva dos Estudos do Discurso: compartilhando reflexões e sugerindo uma agenda para a pesquisa. Pro-Posições, v. 17, n. 1 (49) - jan./abr. 2006

MOHR, A. A saúde na escola: análise de livros didáticos de 1ª a 4ª séries. Cadernos de Pesquisa, n.94, p.50-57, 1995.


Documentos Relacionados

Guia para a formação de profisionais de saúde e de educação


Links interessantes

Promoción de la salud en la escuela
Salud Publica

sábado, 10 de julho de 2010

Música, cérebros, matemática

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O vídeo acima vai levar todos os que se deixam tocar pela música e pela ciência em estado de encantamento. Trata-se de uma demonstração feita por Bobby McFerrin, cantor e compositor britânico radicado nos EUA, sobre a escala pentatônica, num debate entre ele e três neurocientistas, realizado no World Science Festival.

Meus estudos de música já aconteceram há muitos anos, e tive que buscar informações para me lembrar do que eram as escalas pentatônicas. Para quem quiser saber mais e melhor sobre elas, sugiro o link da wikipédia em inglês. Ele é mais completo do que o verbete em português que, entretanto, dá uma idéia bastante boa do que se trata. Basicamente, as escalas pentatônicas (que McFerrin não explica, mas demonstra, em sua apresentação) são escalas formadas por cinco notas ou tons musicais, muito usadas na música folclórica e popular de diversos países, no rock e no jazz. A razão de seu sucesso é o fato de serem tão intuitivas, como nos mostra McFerrin de maneira encantadora e simples. Ele começa a demonstração ensinando duas notas para o público e quando percebe que todos repetem o que foi solicitado, sem hesitação, propõe um teste, que revela que, já sabendo o que fazer, os cérebros das pessoas do público foram capazes de antecipar o som da terceira nota, que ele não canta. Em seguida, McFerrin vai tornando a melodia mais complexa, por meio do mesmo método, produzindo um irrefreável encantamento em quem assiste.

McFerrin quer mostrar que parece que existem, em nosso cérebro, mecanismos inatos que produzem expectativas a respeito de coisas que ainda não vimos (ou escutamos). Encontrei outro post muito interessante sobre o assunto no blog de divulgação científica Ciência na Mídia, no qual a autora, Tatiana Nahas, uma neurocientista, compara as expectativas auditivas às clássicas expectativas visuais.
A apresentação pode ser usada em aulas de matemática (para falar das escalas pentatônicas e de Pitágoras, a quem elas são atribuídas) e neurociências. O professor de música , sem dúvida, ficaria feliz de participar do projeto. Mas pode, mais do que tudo, ser usada para provocar o mesmo encantamento que senti em todas as cento e cinquenta vezes em que o assisti.

Biodiversidade é o mesmo que natureza?

Duas biólogas e uma artista plástica resolveram comemorar o Ano Internacional da Biodiversidade com um site muito bonito e cheio de informações, conexões e muito bom humor. Uma delas, a Nurit Bensusan, é a autora do conjunto de textos sobre biodiversidade que inaugurou o "Mapa da Mina" e, portanto, gente da casa.

Apesar da importância incontestável da biodiversidade, sobretudo num país que detém parte significativa da biodiversidade do planeta, a efeméride corre o risco de passar desapercebida pela maior parte dos brasileiros, e o site pretende dar sua contribuição para que isso não aconteça.

As meninas começaram sua conversa com uma pergunta interessante: "Quem foi que teve a idéia de jirico de chamar natureza de biodiversidade?". Em outras palavras, qual é, no limite, a diferença entre biodiversidade e natureza, e quais as consequências, em termos de percepção pública, da criação dessa palavra nova para falar das coisas vivas, suas relações e seu meio. Para quem não conhece a definição dessa palavrinha, ela está ná na Convenção sobre Diversidade Biológica: "variabilidade entre organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas". Hum... Cheira a natureza...

Confiram, o site: http://www.biotrix.com.br/

terça-feira, 6 de julho de 2010

Possíveis concepções sobre a biodiversidade: adaptacionismo e construtivismo

O construtivismo ambiental defende que o ambiente é modificado continuamente pelos organismos e vice-versa, de forma que não há organismos separados do ambiente e tampouco ambiente a parte dos organismos. Essa é a ideia básica da construção de nichos, ou seja, os organismos interagem com seu ambiente, retiram dele energia e recursos, fazem escolhas de seus micro e macro habitats, constroem artefatos, emitem detritos e morrem em seus ambientes. Assim procedendo, os organismos modificam, pelo menos em parte, as pressões dos processos de seleção natural às quais eles mesmos e os outros organismos estão submetidos no ambiente local (Olding-Smee et. al., 2003).
Apesar dos esforços de alguns biólogos, como Richard Lewontin, de reforçar essa perspectivas, a construção de nichos tem sido um assunto negligenciado, e mesmo rejeitado, no estudo da evolução e no discurso e nas práticas da biologia da conservação. Percebida muitas vezes como uma manifestação próxima de uma causa última – a seleção natural – a construção de nichos é caracterizada como não tendo importância evolutiva independente. Esse cenário remonta à distinção que Mayr fazia entre causas próximas e últimas. Segundo Mayr (1998), a biologia pode ser dividida entre o estudo das causas próximas, o que seria objeto das ciências fisiológicas, e o estudo das causas últimas, ou seja, evolutivas. Para Mayr, os processos ligados ao desenvolvimento não devem ser encarados como causas independentes de eventos evolutivos, pois suas características são totalmente explicadas pela seleção natural.
Ou como Laland (2004) aponta, citando a idéia de fenótipo estendido de Dawkins, os efeitos da construção de nichos seriam meros fenótipos estendidos e esses possuem o mesmo papel na evolução que os fenótipos normais. A construção de nichos seria um produto dos genes selecionados naturalmente, mas não parte do processo. Recentemente, no campo da evolução, o processo de construção de nichos vem sendo revisitado e sua importância vem crescendo.
No que tange, porém, à conservação, a construção de nichos continua tão neglicenciada como sempre foi. O modelo de conservação da biodiversidade, adotado na maior parte do mundo, inclusive no Brasil, é fortemente adaptacionista. Ou seja, pressupõe um ambiente majoritariamente já formado ao qual os organismos se adaptam. Tal concepção influencia, evidentemente, as estratégias de conservação. Um exemplo disso é a insistência em modelos focados em espécies ou centrados em áreas protegidas.
Essa maneira de ver o ambiente, apenas como um cenário, onde os organismos atuam, será, certamente colocada em xeque pelas grandes mudanças que se avizinham, como por exemplo as mudanças climáticas e a transformação das informações genéticas em informações digitais que transitam fora dos organismos biológicos.
"Texto de Nurit Bensusan, bióloga que divide seu tempo trabalhando com conservação da biodiversidade e refletindo sobre meio ambiente, ciência e tecnologia no blog "Nosso Planeta".
Bibliografia

Laland, K.N. 2004. Extending the extended phenotype. Biology and Philosophy 19: 313-325.

Mayr, E. 1998. O desenvolvimento do pensamento biológico. Tradução: I. Martinazzo. Editora Universidade de Brasília, Brasília.

Odling-Smee, F.J; K.N. Laland & M.W. Feldman. 2003. Niche construction: The neglected process in evolution. Monographs in Population Biology, 37. Princeton University Press, New Jersey.

Textos para download

Laland, K.N. & K. Sterelny. 2006. Perspective: Seven reasons (not) to neglect niche construction. Evolution 60 (9): 135-146.

Laland, K.N. 2004. Extending the extended phenotype. Biology and Philosophy 19: 313-325.

Day R.L., Laland, K.N. & Odling-Smee, F.J. 2003. Rethinking Adaptation: The Niche-Construction Perspective. Perspectives in Biology and Medicine. 46(1): 80-95

Links interessantes

Niche Construction (site do livro de Odling-Smee et. al., 2003)
Niche Construction - A Bibliography and Related Links

Livros interessantes

Lewontin, R. 2002. A tripla hélice: gene, organismo e ambiente. Tradução: J.Viegas Filho. Companhia das Letras, São Paulo.

Lewontin, R & R. Levins, 2007. Biology under the influence: Dialectical essays on ecology, agriculture, and health. Monthly Review Press, Nova York.

Odling-Smee, F.J; K.N. Laland & M.W. Feldman. 2003. Niche construction: The neglected process in evolution. Monographs in Population Biology, 37. Princeton University Press, New Jersey.

Chase, J.M. E M.A. Leibold. 2003. Ecological niches: Linking classical and contemporary approaches. The Chicago University Press, Chicago.

Biodiversidade: causa ou efeito?

Não é possível caracterizar a biodiversidade como causa ou efeito de maneira neutra. Ou seja, para fazê-lo, é preciso escolher uma teoria, pois não há solução para a questão das unidades e das diferenças sem a consideração de quais diferenças e quais similaridades são importantes. Esse julgamento de importância depende de um compromisso teórico, depende da adoção de uma concepção de mecanismos biológicos e de seu funcionamento. Está, ainda, vinculado aos propósitos particulares de cada grupo de cientistas (Maclaurin & Sterelny, 2008).

Biólogos da conservação, por exemplo, estão sempre preocupados com os efeitos da biodiversidade e de sua depleção. Seus argumentos se fundamentam, entre outras razões, na importância da redundância, existente na diversidade, para assegurar a integridade dos ambientes e na variabilidade genética que dá a espécie plasticidade para se adaptar às transformações do ambiente.

Por outro lado, se a teoria evolutiva conduz a outra forma de encarar a biodiversidade: diferenças nos padrões de diversidade são sintomas de diferenças nos processos. Ou seja, por meio das diferenças que existem hoje, é possível traçar os processos que ocorreram e que explicam tais diferenças. Padrões de especiação, por exemplo, são sinais de processos evolutivos.

Em um caso, por exemplo, como o dos ciclideos nos lagos africanos, os sistematas estão interessados em saber qual foi o mecanismo que permitiu o desenvolvimento de tantas espécies em tempo tão curto, enquanto os conservacionistas estão preocupados com o declínio dessa enorme diversidade.

Não é possível, pois, ter ao mesmo tempo uma solução ótima para o problema das unidades e das diferenças com o intuito de detectar os efeitos e a importância relativa dos diferentes mecanismos evolutivos que é também ótima para caracterizar o ambiente onde as forças ecológicas e evolutivas interagem provocando novas mudanças.

"Texto de Nurit Bensusan, bióloga que divide seu tempo trabalhando com conservação da biodiversidade e refletindo sobre meio ambiente, ciência e tecnologia no blog "Nosso Planeta".

Bibliografia

Maclaurin, J. & K. Sterelny. 2008. What is biodiversity? The University of Chicago Press, Chicago.
Sakar, S. 2005. Biodiversity and environmental philosophy. Cambridge University Press, Cambridge.

Links interessantes

Evolutionary Novelties
The Egde

Livros interessantes

Wilson, E.O. 1992. Diversidade da vida. Companhia das Letras, São Paulo.

Maclaurin, J. & K. Sterelny. 2008. What is biodiversity? The University of Chicago Press, Chicago.

Ciclideos: O caso dos peixes ciclídeos no Lago Vitória, considerado por E.O. Wilson como o mais catastrófico, em matéria de extinção da história recente. De uma única espécie ancestral que habitava o lago, surgiram mais de 300 outras espécies. Em 1959, colonos britânicos introduziram a perca do Nilo no lago para a pesca esportiva. Esse peixe, que chega a ter dois metros de comprimento, reduziu drasticamente a população de peixes nativos e extinguiu algumas espécies. Calcula-se que a perca acabe eliminando metade das espécies endêmicas, ou seja aquelas que existem apenas ali no Lago Vitória.

Como medir a biodiversidade ?

Esse é um dos maiores desafios para quem trabalha com o tema. Primeiro, já é complicado saber o que se tem que medir, pois há inúmeras concepções de biodiversidade, algumas delas impossíveis de serem mensuradas. Tradicionalmente, se tem usado o número de espécies como um representante da biodiversidade local. Esse método, porém, deve ser calibrado continuamente pois há importantes distinções entre os grupos a serem medidos e o que se pode inferir dessas medidas. Além disso, em países como o Brasil, há, ainda, relativa carência de dados. A tabela abaixo ilustra o problema:
Biodiversidade conhecida e estimada no Brasil (Lewinsohn e Prado, 2006)
Para usar a riqueza de espécies como medida que representa a biodiversidade no Brasil, seria preciso ainda investir muito em estudos taxonômicos, mas outras possibilidades vem surgindo para lidar com tal carência. Entre elas, trabalhar com novos métodos, em novas fronteiras e com os grupos que são em geral considerados difíceis, sobre os quais temos pouco conhecimento. Um exemplo é o uso da técnica conhecida como código de barras de DNA. Este sistema de identificação pretende realizar a discriminação de todas as espécies vivas do planeta por meio da utilização de um pequeno fragmento padronizado de DNA. Para os animais, já foi escolhido um fragmento: uma região de um gene mitocondrial denominado de citocromo c Oxidase Subunidade I (COI). A técnica tem sido bem sucedida e promete bons resultados ( Azeredo- Espin, 2005). Outro exemplo é o trabalho em novas fronteiras como as profundezas dos oceanos e o dossel das árvores tropicais, onde inúmeras novas espécies são descobertas a cada expedição.

É preciso também investir nas relações entre a composição, a estrutura e a função da biodiversidade . Apesar do número de espécies funcionar como um bom indicador de biodiversidade, essa não pode ser resumida a uma lista, mesmo que gigantesca, de espécies.

"Texto de Nurit Bensusan, bióloga que divide seu tempo trabalhando com conservação da biodiversidade e refletindo sobre meio ambiente, ciência e tecnologia no blog "Nosso Planeta".
Bibliografia

Lewinsohn, Thomas M. e Paulo I. Prado, 2006. Avaliação do Conhecimento da Biodiversidade Brasileira. Ministério do Meio Ambiente – MMA, Brasília.

Azeredo- Espin, A.M.L.2005. O Código de Barras da Vida baseado no DNA “Barcoding of Life”: Considerações e Perspectivas. In: www.cria.org.br/cgee/documentos/DNAbarcoding_2005.doc, acessado em 05/05/2009.

Textos para download

Matrizes, redes e ordenações: a detecção de estrutura em comunidades interativas. Thomas M. Lewinsohn, Rafael D. Loyola e Paulo Inácio Prado, 2006.

O Código de Barras da Vida baseado no DNA “Barcoding of Life”: Considerações e Perspectivas. Ana Maria Lima de Azeredo- Espin, 2005.

Links interessantes

Site do Consórcio do Código de Barras da Vida
Global Taxonomic Initiative
Centro de Referência em Informação Ambiental

Livros interessantes

Lewinsohn, T. M. e P. I. Prado. 2002. Biodiversidade Brasileira: Síntese do estado atual do conhecimento. Ministério do Meio Ambiente- Conservation International do Brasil. Ed. Contexto.

Gaston, K.J. (ed.) 1996. Biodiversity: A biology of numbers and difference. Blackwell Science Ltd., Oxford.

Maclaurin, J. & K. Sterelny. 2008. What is biodiversity? The University of Chicago Press, Chicago.

Como conservar a biodiversidade ?

Atualmente, em grande parte do mundo, o principal instrumento para a conservação da biodiversidade é o estabelecimento de áreas protegidas. A necessidade de se proteger determinados espaços da sanha destruidora da nossa espécie já mostra, por si só, o tamanho desse desafio. Em uma sociedade mais saudável, talvez fosse possível disciplinar e gerir o uso dos recursos naturais de forma mais ampla e, quiçá, mais democrática, sem que houvesse necessidade de reservar espaços especialmente para a proteção da natureza.
Essas áreas existem em aproximadamente oitenta por cento dos países do mundo e cobrem cerca de 11,5% da superfície terrestre do planeta. Algumas dessas áreas protegidas foram criadas, ainda no século XIX, com o intuito de preservar paisagens especialmente belas paras as futuras gerações. Durante o século XX, esse instrumento se popularizou e as altas taxas de extinção de espécies conduziram à criação da vasta maioria das áreas protegidas, como uma tentativa de resposta à crise das extinções.
Apesar das áreas protegidas serem parte obrigatória de qualquer estratégia de conservação da biodiversidade, elas não suficientes para manter a integridade dos processos ecológicos e evolutivos que geram e mantêm a biodiversidade. Essa estratégia deve ser acompanhada de várias outras medidas relativas aos espaços não protegidos, para garantir a manutenção da biodiversidade dentro e fora das áreas protegidas. Por maior que essas sejam e por mais interconectadas que estejam, processos geradores e mantenedores da biodiversidade acontecem em escalas que transcendem os limites dos espaços protegidos.
Vale, ainda, ressaltar que o modelo de conservação baseado em áreas protegidas pressupõe uma visão adaptacionista no meio ambiente. Em tempos de mudanças climáticas, esse modelo certamente enfrentará grandes problemas, pois entre as transformações previstas estão alterações na distribuição das espécies e em suas interrelações.
"Texto de Nurit Bensusan, bióloga que divide seu tempo trabalhando com conservação da biodiversidade e refletindo sobre meio ambiente, ciência e tecnologia no blog "Nosso Planeta".
Textos para download
Biodiversidade, texto de Nurit Bensusan do livro: Meio ambiente Brasil. Avanços e obstáculos pós-Rio-92. A. Camargo, J.P.R. Capobianco e J.A.P. Oliveira (orgs). 2002. Protected areas and biodiversity (documento da Convenção sobre Diversidade Biológica) World Heritage and Protected Areas (balanço quantitativo das áreas protegidas do mundo produzido pela União Internacional para a Conservação da Natureza – UICN)

Links interessantes

Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB)
Ministério do Meio Ambiente
Caracterização Socioambiental das Unidades de Conservação da Amazônia Brasileira
UNEP-IUCN World Database on Protected Areas (WDPA)

Livros interessantes

Primack, R.B. E Efraim Rodrigues. 2001. Biologia da Conservação. E. Rodrigues, Londrina.

Sutherland, W.J. (ed.) 1998. Conservation science and action. Blackwell Science Ltd., Oxford.

Wilson, E.O. (ed.) 1997. Biodiversidade. Tradução de M. Santos e R. Silveira. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro.

Valladares-Padua, C. E R. Bodmer (org). 1997. Manejo e conservação da vida silvestre no Brasil. MCT – CNPq, Brasília e Sociedade Mamirauá, Belém.

Bennett, A.F. 1999. Linkages in the lanscape: The role of corridors and conectivity in wildlife conservation. IUCN, Gland, Suiça e Cambridge, Inglaterra.

Bensusan, N. 2006. Conservação da biodiversidade em áreas protegidas. Editora Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro.

Anderson, A.B. e C. N. Jenkins. 2005. Applying nature's design: Corridors as a strategy for biodiversity conservation. Columbia University Press, Nova York.

Por que é importante conservar a biodiversidade ?

Há vários bons motivos para conservar a biodiversidade. Uma parte desses motivos tem relação com a própria existência da biodiversidade e outros estão relacionados com a sobrevivência da nossa espécie e em que condições tal sobrevivência se dá. Dentre as razões relacionadas com a própria diversidade biológica, estão aquelas de cunho ético e até mesmo as estéticas. Muitas vezes, esse conjunto de razões é questionado e, de fato, é difícil responder objetivamente à questão: a biodiversidade tem um valor intrínseco? Por outro lado, os motivos relacionados com o uso da biodiversidade e sua utilidade para humanidade encontram ecos mais facilmente. Um exemplo, cada vez mais explorado, é o dos serviços ambientais. E para ilustrar, nada melhor que uma pequena viagem... para a Lua!

Imagine que você quisesse realmente ir para a Lua e lá se estabelecer? Do que precisaria? Vamos supor, para ficar mais simples, que a atmosfera e o clima da Lua fossem similares aos da Terra. Você, depois de fazer as malas, teria que escolher, então, que espécies, dentre as milhares existentes na Terra, levar consigo. Bom, um critério aceitável é começar pelas espécies que podem ser diretamente exploradas e fornecem alimentos, fibras, madeira, remédios e outros produtos como óleos, resinas e borracha. Essas já são numerosas... afinal você não pretende comer apenas batatas na Lua...

Mas... se você pensar um pouco, verá que precisa levar outras espécies para garantir a sobrevivência dessas que você escolheu. Que espécies são essas e quantas são? Não se sabe... Ou seja, ninguém sabe ao certo quais são e quantas espécies são necessárias para sustentar a vida humana na Terra.

Quem sabe uma outra abordagem... enumerar os serviços ambientais que você vai precisar na Lua. Vejamos: purificação da água e do ar, moderação de eventos climáticos extremos, proteção contra os raios ultra-violetas, decomposição do lixo, geração e manutenção da fertilidade do solo, polinização das espécies, dispersão de sementes e controle de pragas e doenças. Pelo menos esses. Quais e quantas espécies espécies seriam, pois, necessárias para garantir esses serviços? Tomemos, como exemplo, o caso da fertilização do solo: de quantas espécies precisamos para assegurar esse serviço? Em um grama de solo, encontramos cerca de 30 mil protozoários, 50 mil algas, 400 mil fungos e bilhões de bactérias. Em uma escala mais ampliada, para além de um grama, encontraremos também as minhocas e os insetos... (Daily, 1997).

Nessa altura do campeonato, se você já desistiu de ir para a Lua e resolveu ficar por aqui, vai ter que lidar com uma outra questão, também correlacionada a conservação da biodiversidade: a crescente exclusão social. Se considerarmos os serviços ambientais, como a purificação da água e do ar, a mitigação de secas e de enchentes, a desintoxicação e decomposição de resíduos, a geração e renovação do solo e de sua fertilidade, a polinização, o controle da vasta maioria das doenças e pestes potenciais, a dispersão de sementes e translocação de nutrientes, a fonte potencial de recursos agrícolas, farmacêuticos e de novos materiais, moderação de temperaturas extremas, entre outros, perceberemos que seu comprometimento encareceria os produtos deles derivados, fazendo com que muitas pessoas não pudessem continuar a ter acesso a eles. O caso da qualidade da água, descrito acima, é apenas um exemplo: a perda de qualidade da água no local de captação, encarece o tratamento, o serviço de abastecimento tem seus preços aumentados e para muitos, torna-se impossível pagar. Em resumo, o comprometimento dos serviços ecológicos, principalmente em países como o nosso, resulta em aumento da exclusão social e econômica de uma parcela maior da população.

Uma alternativa à conservação da biodiversidade sempre apontada é a substituição de suas funções úteis para a humanidade por alternativas tecnológicas. Não há dúvida que a tecnologia resolveu muitos dos problemas ambientais e apresenta um enorme potencial para solucionar muitos outros, principalmente com a emergência da biotecnologia e da nanotecnologia. A tecnologia, porém, apresenta uma outra faceta que não pode deixar de ser considerada: seu desenvolvimento recente está concentrado em algumas partes do mundo e nas mãos de algumas poucas grandes corporações e dificilmente seus produtos serão acessíveis a toda população humana. A consequência mais direta desse cenário é que a tecnologia criará um grupo de privilegiados com acesso a seus produtos e serviços, muitas vezes substitutos dos naturais destruidos por nós. O irônico é que a destruição dos produtos e serviços naturais, em geral, se deve aos padrões de consumo desse mesmo grupo de privilegiados que terá acesso aos resultados do desenvolvimento tecnológico.
"Texto de Nurit Bensusan, bióloga que divide seu tempo trabalhando com conservação da biodiversidade e refletindo sobre meio ambiente, ciência e tecnologia no blog "Nosso Planeta".
Bibliografia
Daily, G.C. 1997. Nature´s services: Societal dependence on natural environments. Island Press, Washington.

Textos para download

Serviços ecológicos - Seria melhor mandar ladrilhar? Biodiversidade: como, para que e por quê. Nurit Bensusan, 2008.

Links interessantes

Biodiversity Conservation Network
Scientific Definitions of Biodiversity
União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN)
O valor da biodiversidade, por Paulo Coutinho

Livros interessantes

Maclaurin, J. & K. Sterelny. 2008. What is biodiversity? The University of Chicago Press, Chicago.

Daily, G.C. 1997. Nature´s services: Societal dependence on natural environments. Island Press, Washington, DC.

Baskin, Yvonne.1997. The work of nature: How the diversity of life sustains us. Island Press, Washington, DC.

Buchmann S.L e G. P. Nabhan. 1996. The forgotten pollinators. Island Press, Washington, DC.

Bensusan, N. (org). 2008. Seria melhor mandar ladrilhar? Biodiversidade: como, para que e por quê. 2a. edição (revisada e ampliada). Editora Universidade de Brasília, Brasília; Instituto Internacional de Educação do Brasil – IEB, Brasília e Editora Peirópolis, São Paulo.

Biodiversidade e suas definições

A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), popularmente conhecida como a Convenção da Biodiversidade, define o termo ‘diversidade biológica’, em seu segundo artigo, como a “variabilidade entre organismos vivos de todas as origens compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas.” Apesar das controvérsias em torno dessa definição, a CDB consolidou uma forma de ver a biodiversidade e contribuiu para introjetá-la na pauta política de seus mais de 180 países signatários. No começo da década de 1990, vários pesquisadores foram entrevistados por David Takacs, que, entre outros resultados, compilou uma série de definições do termo “biodiversidade” (Takacs, 1996). Nessas definições é possível identificar, pelo menos, duas grandes correntes, a que aposta na diversidade de espécies e a que considera os processos biológicos, de alguma forma, como parte da biodiversidade. Alguns exemplos:
“A variedade de populações geneticamente distintas e espécies de plantas, animais e microorganismos com os quais o homem compartilha a terra e a variedade de ecossistemas dos quais eles são partes integrantes”. Paul Ehrlich, 1992.

“Biodiversidade é o número total de linhagens genéticas na terra”. Thomas Eisner, 1992.

“Biodiversidade é a soma das espécies da terra incluindo todas suas interações e variações com seu ambiente biótico e abiótico no espaço e no tempo”. Terry Erwin, 1991.

“A dimensão da diferença nos múltiplos níveis de organização biológica, considerando todas as diferentes entidades e todos os diferentes processos”. Donald Falk, 1992.

“Total de genes, populações, espécies e o conjunto de interações que eles manifestam”. Daniel Janzen, 1992.

“Variação, variabilidade ou variedade de organismos vivos, o que inclui variação intraespecífica e os níveis de comunidades, ecossistemas e paisagens”. K.C. Kim, 1992.

“Diversidade de todos os níveis de organização”. Thomas Lovejoy, 1992.

“A diversidade biótica total indicada como o número de espécies e a diversidade genética que abrangem”. S.J. McNaughton, 1992.

“Variedade da vida e seus processos”. Reed Noss, 1992.

“Diversidade de espécies que existem num determinado ecossistema”. David Pimentel, 1992.

“A soma total de plantas, animais, fungos e microorganismos no mundo, incluindo sua diversidade genética e o envolvimento de todos em comunidades e ecossistemas”. Peter Raven, 1992.

“É a vida em todas suas dimensões, riqueza e manifestações, não apenas no nível de indivíduos e espécies, mas também no nível de agregações, comunidades, etc.” Michael Soulé, 1992.

“Variedade da vida ao longo de todos os níveis de organização, desde diversidade gênica em populações, diversidade de espécies, que devem ser encaradas como a unidade pivotal de classificação, até diversidade de ecossistemas”. Edward O. Wilson, 1992.

Para além das definições, uma discussão interessante é se a riqueza das espécies pode funcionar efetivamente como um substituto da biodiversidade para efeitos de mensuração e de objetivo de conservação.

Takacs, D. 1996. The idea of biodiversity. The John Hopkins University Press, Londres.

Links interessantes

Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB)
Scientific Definitions of Biodiversity
A evolução do conceito de biodiversidade, por Thomas M. Lewinsohn

Livros interessantes

Takacs, D. 1996. The idea of biodiversity. The John Hopkins University Press, Londres.

Shrader-Frechette, K.S & E.D. McCoy. 1993. Method in Ecology. Cambridge University Press. Cambridge.

Afinal... O que é Biodiversidade ?

O termo ‘biodiversidade’ foi cunhado a partir da expressão ‘diversidade biológica’, mas transcendeu o seu significado original. No começo da década de 1980, ‘diversidade biológica’ era sinônimo de riqueza de espécies; em 1982, o termo adquiriu o sentido de diversidade genética e riqueza de espécies e, por fim, em 1986, com a contração da expressão, expandiu-se para abrigar além da diversidade genética e da diversidade de espécies, a diversidade ecológica.

Os sistemas biológicos, porém, não se resumem apenas na mera presença dos organismos, seu funcionamento depende dos tipos e das combinações entre os organismos presentes. Por causa disso, muitos afirmam que a biodiversidade possui três componentes fundamentais: a composição, a estrutura e a função (Groves et al., 2002). E isso quer dizer que a biodiversidade abarcaria os processos que geram e mantêm as espécies, a variabilidade genética, a diversidade de populações e comunidades, a multiplicidade de ecossistemas e paisagens, bem como todas suas relações com o meio físico e entre si.

Outros ressaltam que para além do número de espécies, outras dimensões da biodiversidade podem ser representadas pelo número de níveis tróficos presentes, o número de guildas, a variedade de ciclos de vida e a diversidade de recursos biológicos. Enfatizam, também, que algumas espécies podem desempenhar um papel importante para a riqueza total de espécies, tais como árvores, polinizadores, simbiontes mutualistas, patógenos reguladores da população e agentes de controle biológico com efeitos sobre a biodiversidade local (Harper & Hawksworth, 1994).

Assim, parece que a biodiversidade é mais do que uma propriedade natural ou uma quantidade e alguns, como Sahotra Sakar, não acreditam que seja possível definir biodiversidade, pois os sistemas biológicos são biodiversos em muitas dimensões. Ele alega, por exemplo, que a conservação de genes, espécies e comunidades não é suficiente para manter todos os fenômenos biológicos interessantes, pois alguns resultam das interações únicas entre determinados componentes dos sistemas (Sakar, 2005).

Vale, ainda, ressaltar uma outra questão: muito da biologia é profundamente histórica. Não apenas por causa da história evolutiva da vida na Terra, mas porque os sistemas biológicos e seus componentes – organismos, populações, conjuntos de genes, espécies, comunidades, ecossistemas, paisagens – são resultados de processos históricos. Um exemplo: o ouro é ouro em qualquer lugar do nosso planeta, preserva suas características químicas e físicas, independente de sua história. Os organismos, por sua vez, e outros componentes dos sistemas biológicos, carregam consigo as marcas de sua história. As biotas adaptadas aos desertos da Austrália e da África se assemelham por causa dos ambientes similares, mas diferem significativamente por causa de seus passados distintos (Maclaurin & Sterelny, 2008).
"Texto de Nurit Bensusan, bióloga que divide seu tempo trabalhando com conservação da biodiversidade e refletindo sobre meio ambiente, ciência e tecnologia no blog "Nosso Planeta".

Referências Bibliográficas

Groves, C.D. et. al. 2002. Planning for biodiversity consercation: Putting conservation scinece into tractice. BioScience 52 (5): 400-512.

Harper, J.L. & D.L. Hawksworth. 1994. Preface. Philosophical Transactions of the Royal Society of London B 345: 5-12.

Maclaurin, J. & K. Sterelny. 2008. What is biodiversity? The University of Chicago Press, Chicago.

Sakar, S. 2005. Biodiversity and environmental philosophy. Cambridge University Press, Cambridge.

Textos para download

Introdução do Livro: Seria melhor mandar ladrilhar? Biodiversidade: como, para que e por quê. Nurit Bensusan, 2008.

Links interessantes

How many species on Earth?
Mapa da Biodiversidade
Biodiversity Heritage Library
Centro de Referência em Informação Ambiental
Encyclopedia of Life

Livros interessantes

Wilson, E.O. 1992. Diversidade da vida. Companhia das Letras, São Paulo.

Maclaurin, J. & K. Sterelny. 2008. What is biodiversity? The University of Chicago Press, Chicago.

Bensusan, N. (org) 2008. Seria melhor mandar ladrilhar?Biodiversidade: como, para que e por quê. 2a. edição (revisada e ampliada). Editora Universidade de Brasília, Brasília; Instituto Internacional de Educação do Brasil – IEB, Brasília e Editora Peirópolis, São Paulo.