A temática ambiental conquistou lugar no debate contemporâneo nos mais diversos espaços e setores da sociedade e está, evidentemente, também presente nos ambientes educativos. Tornou-se consensual a necessidade de problematizar as relações entre práticas sociais e meio ambiente, visando a formação de sujeitos que reflitam sobre o tema e atuem na construção de caminhos para a chamada sustentabilidade ambiental.
A formação desse sujeito tem lugar em ambientes escolares e não escolares e está garantida pela Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9795/99), aprovada em 1999 e regulamentada em 2002. Pela Lei, a EA é considerada obrigatória em todos os níveis de ensino e essencial como parte da educação básica.
Importante lembrar que tanto a PNEA, como é conhecida a Lei 9795/99, como o ProNEA (Programa Nacional de Educação Ambiental) são conquistas de educador@s ambientais brasileir@s que se organizam em movimentos da sociedade civil e em redes para refletir a respeito das práticas educativas ambientais e propor ações para sua implementação em diversos setores da sociedade.
Um documento marcante da construção participativa de princípios e propostas de ação para a educação ambiental é o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, produzido pelo Fórum Internacional de ONGs e Movimentos Sociais durante a Rio-92.
Qual educação ambiental?
Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto mais em baixo; bem diverso do em que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso? (João Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas)
O que significa pensar uma educação que seja ambiental? Frente à heterogeneidade de ações educativas assim nomeadas, o que tem se construído do ponto de vista conceitual e nos sentidos que assumem a prática educativa?
A expressão educação ambiental traz uma gama de possíveis significados, anunciados na forma de conceitos ou princípios que inspiram um espaço-tempo que pretendemos atingir e cujos caminhos que para lá conduzem estão em construção. Tal como a visualização que Riobaldo tem da margem a ser alcançada na travessia do rio – um objetivo projetado que guia e permite avaliar e reconduzir as ações cotidianas. Mas há que se considerar a grandeza da travessia. Nessa perspectiva, os sentidos projetados iriam além do que as práticas são capazes de concretizar, mas permaneceriam como orientadores dos caminhos a serem traçados.
Então qualificar a educação de ambiental é demarcar no campo educativo a importância da formação de sujeitos críticos frente ao que se apresenta hoje como crise. O adjetivo ambiental intenta garantir espaço a um fazer pedagógico que se contrapõe a uma educação que, historicamente, impôs um modo de pensar construído por dicotomias - entre natureza e cultura, entre saber científico e saber popular, entre sujeito e objeto – em que o ambiente foi excluído de suas reflexões.
Na literatura sobre educação ambiental encontramos reflexões sobre diferenças e divergências entre práticas que se abrigam sob essa terminologia comum, a educação ambiental, o que tem lhe conferido novas adjetivações, tais como: educação ambiental crítica, transformadora ou emancipatória; educação ambiental dialógica; educação ecovivencial; ecopedagogia. O livro Identidades da Educação Ambiental intenta estimular reflexões a esse respeito.
Quais repercussões esse debate têm nas práticas de educação ambiental que propomos? O que pretendemos com as atividades de educação ambiental que desenvolvemos – a adoção de comportamentos julgados corretos sob nosso olhar ou a formação de sujeitos críticos a respeito das relações sociedade, saberes e ambiente? Como temos planejado as atividades a serem implementadas na escola e em outros espaços educativos em que atuamos?
por Maria Rita Avanzi