Conversando sobre educação científica

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terça-feira, 6 de julho de 2010

Biodiversidade: causa ou efeito?

Não é possível caracterizar a biodiversidade como causa ou efeito de maneira neutra. Ou seja, para fazê-lo, é preciso escolher uma teoria, pois não há solução para a questão das unidades e das diferenças sem a consideração de quais diferenças e quais similaridades são importantes. Esse julgamento de importância depende de um compromisso teórico, depende da adoção de uma concepção de mecanismos biológicos e de seu funcionamento. Está, ainda, vinculado aos propósitos particulares de cada grupo de cientistas (Maclaurin & Sterelny, 2008).

Biólogos da conservação, por exemplo, estão sempre preocupados com os efeitos da biodiversidade e de sua depleção. Seus argumentos se fundamentam, entre outras razões, na importância da redundância, existente na diversidade, para assegurar a integridade dos ambientes e na variabilidade genética que dá a espécie plasticidade para se adaptar às transformações do ambiente.

Por outro lado, se a teoria evolutiva conduz a outra forma de encarar a biodiversidade: diferenças nos padrões de diversidade são sintomas de diferenças nos processos. Ou seja, por meio das diferenças que existem hoje, é possível traçar os processos que ocorreram e que explicam tais diferenças. Padrões de especiação, por exemplo, são sinais de processos evolutivos.

Em um caso, por exemplo, como o dos ciclideos nos lagos africanos, os sistematas estão interessados em saber qual foi o mecanismo que permitiu o desenvolvimento de tantas espécies em tempo tão curto, enquanto os conservacionistas estão preocupados com o declínio dessa enorme diversidade.

Não é possível, pois, ter ao mesmo tempo uma solução ótima para o problema das unidades e das diferenças com o intuito de detectar os efeitos e a importância relativa dos diferentes mecanismos evolutivos que é também ótima para caracterizar o ambiente onde as forças ecológicas e evolutivas interagem provocando novas mudanças.

"Texto de Nurit Bensusan, bióloga que divide seu tempo trabalhando com conservação da biodiversidade e refletindo sobre meio ambiente, ciência e tecnologia no blog "Nosso Planeta".

Bibliografia

Maclaurin, J. & K. Sterelny. 2008. What is biodiversity? The University of Chicago Press, Chicago.
Sakar, S. 2005. Biodiversity and environmental philosophy. Cambridge University Press, Cambridge.

Links interessantes

Evolutionary Novelties
The Egde

Livros interessantes

Wilson, E.O. 1992. Diversidade da vida. Companhia das Letras, São Paulo.

Maclaurin, J. & K. Sterelny. 2008. What is biodiversity? The University of Chicago Press, Chicago.

Ciclideos: O caso dos peixes ciclídeos no Lago Vitória, considerado por E.O. Wilson como o mais catastrófico, em matéria de extinção da história recente. De uma única espécie ancestral que habitava o lago, surgiram mais de 300 outras espécies. Em 1959, colonos britânicos introduziram a perca do Nilo no lago para a pesca esportiva. Esse peixe, que chega a ter dois metros de comprimento, reduziu drasticamente a população de peixes nativos e extinguiu algumas espécies. Calcula-se que a perca acabe eliminando metade das espécies endêmicas, ou seja aquelas que existem apenas ali no Lago Vitória.

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